Conheça produtores brasileiros que ‘plantam água’ no Centro-Oeste para proteger fauna e flora do Cerrado

  • 30/10/2025
(Foto: Reprodução)
Conheça os plantadores de água O Jornal Nacional apresenta, esta semana, reportagens sobre iniciativas que estão recuperando os biomas brasileiros. Nesta quinta-feira (30), você conheceu agricultores e pecuaristas do Cerrado que produzem muito mais do que alimentos. Um carinho muito estranho, feito de lâminas e engrenagens, mas é carinho. Se chama agricultura a antiga relação do ser humano com a terra. Dez mil anos e aprendendo. Uma plantação, por exemplo, é bem diferente. Tanto que a fazendeira não está nem preocupada com a data da colheita. "Eu estou tentando mostrar que existe uma outra possibilidade de a gente deixar o mundo melhor para os nossos netos", diz Cristina Possari Lemos, proprietária da Fazenda Crescente. Que semente é essa que se projeta no tempo? Quem são esses produtores pensando além da próxima safra? É hora de conhecer os plantadores de água. "Ainda não existe esse termo, mas a gente já se considera aqui na região. Nós somos produtores de água", comenta Vitor Luis Barbosa, proprietário da Fazenda Paraíso. Não é chuva, é a colheita. A equipe do Jornal Nacional foi até a capital mais arborizada do Brasil. Uma árvore para cada cinco habitantes. Nas ruas, a sombra da aroeira e do jacarandá aliviam o aperto de toda cidade grande. Assim é Campo Grande. A terra do ipê amarelo, a flor que uma vez por ano dispensa imitações porque não tem igual. O Cerrado brasileiro ocupa pouco mais de 1% da superfície de terra firme do planeta e tem quase 5% das espécies de animais e plantas do mundo. Ou seja, esse pedacinho da terra é um lugar de vida , de olho no olho, de barulho. Entre voadoras e caminhantes, o Cerrado já tinha mais de mil espécies nativas, quando o ser humano resolveu levar mais uma: o boi. Só em Mato Grosso do Sul eles são mais de 18 milhões - mais de seis vezes o número de habitantes do estado. Dezoito milhões de famintos e sedentos também. E o Cerrado, tão grande que parecia infinito, mandou o primeiro recado: começou a secar. "Oito anos atrás, nessa época, a gente, como produtor pecuarista, estava desesperado que a água estava bem escassa", comenta Vitor. "Passamos aqui um período complicado, um período caótico. Realmente aqui estava muito preocupante", relata Claudinei Pecois, presidente da Associação dos Produtores de Água/ APA Guariroba. A ciência deu o alerta. "Muito importante a gente perceber que o Brasil, que era um país onde tínhamos um excesso de precipitação, que nos levou a ser uma grande força na produção de alimentos, este período provavelmente já passou. Nós temos que repensar o uso racional da água no nosso país de uma maneira intensa e essa tarefa é para ontem", afirma Paulo Artaxo, cientista e professor da USP. Ainda bem que por lá a tarefa já começou. Nos arredores de Campo Grande, ontem significa vários anos atrás. Vítor recebeu do pai as terras e as lições. "Não é fácil cuidar da natureza e produzir muito bem ao mesmo tempo. Mas tem esse meio termo. Esse equilíbrio é possível acontecer", pontua Vitor. Conheça produtores brasileiros que ‘plantam água’ no Centro-Oeste para proteger fauna e flora do Cerrado Jornal Nacional/ Reprodução Fazenda Paraíso. Parece mais paraíso que fazenda. Mas nem sempre foi assim. "Aqui, antigamente, você vê que é uma área mais limpa aqui entre os matos, era um passador de boiada. Isso aqui era uma estrada antigamente. Para você ter uma ideia, passava de carro, de trator ali dentro", conta Vitor. A parte mais rica da fazenda quase morreu esmagada. Mas quando tomaram uma atitude e afastaram o gado das nascentes, um brilhozinho começou a rebrotar do chão. Vitor Luis Barbosa: Isso aqui tudo nascente. Toda essa área que a gente está entrando agora é área de nascente. Pedro Bassan, repórter: Um resultado visível, né? Vitor Luis Barbosa: Sim. E olha o volume de água que é isso aí. Repórter: A ponta do nosso dedo molhada é sinal de vida no Cerrado. Alguns metros depois, esse fiozinho de água começa a fazer barulho. É a nascente do Córrego dos Tocos, que dali a poucos quilômetros se junta ao Guariroba. Ainda não parece muito, mas na região, as nascentes brotam em toda parte. E quando sete córregos se juntam, aquele fiozinho de água virou um gigante, capaz de abastecer uma capital: 40% da água de Campo Grande vem da Área de Proteção Ambiental Guariroba. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul mediu e descobriu que a vazão do reservatório, ou seja, o tamanho dessa cachoeira, aumentou um terço depois do trabalho dos plantadores. Imaginar essa represa um terço menor é entender na hora a importância do que eles estão fazendo. "Ele tem capacidade, já tem volume de água suficiente para abastecer Campo Grande inteiro. E com água de extrema qualidade. Não acontece isso ainda porque não temos estrutura para levar essa água para a cidade", pontua Claudinei. Mas, afinal, como é possível produzir tudo isso nas fazendas? Plantar água não é uma força de expressão. É o que realmente acontece quando natureza e ser humano estão se entendendo bem. "Plantar água é um processo de restauração da vegetação nativa onde a gente devolve a funcionalidade daquele ecossistema que foi degradado. A gente consegue notar claramente que onde a gente plantou, onde tem restauração da vegetação nativa essa água vem voltando aos poucos, e às vezes até muito rápido", diz Verônica Maioli, especialista em conservação - WWF Brasil. As árvores não fabricam água, mas impedem que ela vá embora. Funciona assim : quando chove em um terreno degradado, a enxurrada vem rápida e forte. A terra endurecida não consegue absorver a água e ainda é arrastada para nascentes e rios, causando assoreamento, erosão e seca. Com as árvores de volta, a água não tem para onde correr. Penetra no solo, que está fofinho graças às raízes. O que foi absorvido pela terra reaparece nos rios, que evaporam e viram chuva outra vez. É um ciclo, que funciona direitinho há milhões de anos - se ninguém interromper. E olha só quem chegou para ajudar. Na APA Guariroba, os animais do Cerrado estão voltando. A anta parece conduzir nosso olhar pelo campo só para explicar o motivo da volta. É que agora, por onde ela passa encontra a próxima refeição. Mas e o gado, que era o senhor do terreno, como é que fica? E a produção? Com a palavra, quem produz: "Compensa. O volume de água compensa para caramba. Aumentou muito o volume de água de produção para nosso consumo e para os animais", comenta Vitor. "No começo as pessoas ficavam assustadas porque você perdia 20 m da área produtiva para transformar em APP para preservar água. Mas quando ele percebe que a transformação na natureza reflete na boa produtividade da fazenda, no bom desempenho dos seus animais, eles começam a ver a restauração com outros olhos. É incrível você ver", diz Claudinei. A produção vai mudando para conviver com a preservação. A Serra de Maracaju desenha o contorno da Fazenda Arara Azul, onde a produção é intensiva e elegante. Lá, o gado é criado ouvindo música clássica. Uma plateia muito educada. No fundo, rente aos paredões, nasce o Rio do Peixe. O biólogo Werner Moreno se preocupa com cada gota desse riozinho criança. "Quando a gente pensa em Pantanal, de onde vem essa água? Vem do Cerrado. O Cerrado, onde estamos aqui e cada contribuinte é importante. Então essa pequena água que a gente está observando aqui se acumulando aqui, ela vai cair diretamente no Pantanal". Cachoeira do Rio do Peixe Jornal Nacional/ Reprodução A água traz a vida, mas às vezes parece que tem vida própria, vai escolhendo os caminhos e surpreendendo a gente. O Rio do Peixe é pouco mais do que um riacho. Mas escolheu para ele um destino bem grandioso. Se é para descer, que seja do jeito mais impressionante : rolar entre as pedras e despencar de 75 m de altura. Um fiozinho de água que desce, uma massa de árvores que sobem, enfeitando um paredão colorido que a gente não se cansa de olhar. Ao se despedir de um bioma a caminho do outro, a Cachoeira do Rio do Peixe junta em uma só imagem duas maravilhas do Brasil: o Cerrado e o Pantanal. De repente: silêncio. A cachoeira parou. Imagine o choque de quem chegou em outubro de 2024 e encontrou a pedra seca, o abismo vazio. Era um período de estiagem, mas não de cruzar os braços. "A gente já trabalha há um tempo com essas nascentes, então a gente sabe pontos que podem ser cruciais para essa recuperação. Pontos que tinham essa obstrução por causa do sedimento que vai entrando no canal do rio. Então vai gerando entupimentos", diz Wener. Depois de cinco dias de trabalho reabrindo o caminho das águas, alguém sentiu uma brisa mais fria no lago, e logo veio a prova de que o esforço valeu a pena. Desde então, a cachoeira nunca parou de correr e os plantadores de água não pararam de trabalhar. "A gente vê que realmente você pode produzir água. Respeitando a natureza, ela brota", diz Cristina. Cristina adora uma muvuca, mas nada de confusão. Na fazenda, muvuca é essa mistura de sementes. Grandes, pequenas, redondas, achatadas, escuras, clarinhas, de muitas cores. Assim, a mata vai crescer misturada e colorida. É um jeito de plantar inspirado na própria natureza. E quem vive no campo conhece bem essas leis. Quem semeia o bem colhe o bem. E quem planta cores colhe arco-íris. LEIA TAMBÉM Série especial do JN mostra iniciativas de recuperação dos biomas do Brasil

FONTE: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/10/30/conheca-produtores-brasileiros-que-plantam-agua-no-centro-oeste-para-proteger-fauna-e-flora-do-cerrado.ghtml


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