De fazendas solares a 1ª usina do Brasil: Como o sol alimenta a inovação em SC
16/09/2025
(Foto: Reprodução) De fazendas solares a 1ª usina do Brasil: Como o sol alimenta a inovação em SC
Sob o céu de Capivari de Baixo, no Sul de Santa Catarina, um tapete de painéis solares com 45 mil m² transforma luz em energia limpa na maior fazenda fotovoltaica das Centrais Elétricas do Estado, a Celesc. Em Florianópolis, a Universidade Federal (UFSC) mantém ativo o primeiro laboratório de sistema solar do Brasil - e que completa 28 anos nesta terça-feira (16). Espalhadas em telhados e terrenos do estado, placas fotoconversoras mostram como o sol ajuda a alimentar a inovação no estado.
Décimo maior produtor de energia solar do país, segundo a Associação Absolar, o estado de Santa Catarina abriga sete fazendas solares de diferentes tamanhos sob gestão da Celesc, além de mais de 148 mil unidades geradoras integradas à rede de distribuição. Entre elas, está o sistema da UFSC, o primeiro brasileiro ligado à rede pública, ainda em 1997, e que auxiliou na regulação brasileira sobre esse tipo de energia.
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O pioneirismo catarinense tem fundamento, segundo o diretor de Geração, Transmissão e Novos Negócios da Celesc, Elói Hoffelder. A distribuidora estima que 1 milhão de toneladas de gases de efeito estufa (CO₂) deixam de ser produzidos ao ano com as estruturas. Cada quilowatt-hora (kWh) gerado pelos painéis evita a emissão de 0,3 a 0,5 kg de CO₂.
🌳🌳O impacto equivale a plantar mais de 6 milhões de árvores da Mata Atlântica, que absorvem em média 163,14 kg de CO₂ cada uma, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Além da importância ambiental, o coordenador do laboratório de Energia da UFSC e pioneiro na pesquisa sobre o tema no país, Ricardo Rüther, defende que o sistema é o mais barato disponível atualmente:
"Ela sempre foi uma energia sustentável e limpa, mas o que mudou nos últimos anos foi o custo. Hoje, além de tudo, ela é a mais barata no Brasil e no mundo", diz.
Outro fator lembrado pelo diretor da Celesc é a segurança. Segundo ele, as fazendas fotovoltaicas têm menores riscos em comparação a outras fontes. "Os principais perigos incluem choques elétricos, trabalho em altura, exposição a produtos químicos e queimaduras térmicas".
Fazenda de Energia Solar em São José do Cedro, no Oeste
Celesc
O que mais você vai ler na matéria:
➡️️ Onde ficam as fazendas solares e economia na educação;
➡️ Como pioneirismo da UFSC fez 1º show com energia solar da América Latina;
➡️ Como funcionam as usinas de energia limpa;
➡️ Investimento e arrecadação bilionária: o panorama da energia solar em SC
Onde ficam as fazendas solares e economia na educação
A Celesc ingressou no segmento de geração fotovoltaica em 2021, com a instalação de um microgerador em Faxinal dos Guedes, no Oeste, em um projeto-piloto. Com o tempo, ampliou os investimentos em fontes renováveis, especialmente com a criação das fazendas solares.
☀️🟢 Grandiosas, as estruturas totalizam 12 Megawatt (MW) de potência instalada. A de Capivari de Baixo, maior do estado, por exemplo, tem capacidade para atender mais de 1,5 mil residências de uma só vez (veja abaixo):
⚡Capivari de Baixo: 3,0 MW
⚡São José do Cedro: 2,5 MW
⚡Modelo I: 2,5 MW
⚡Lages: 1,0 MW
⚡Videira: 1,0 MW
⚡Modelo II: 1,0 MW
⚡Modelo III: 1,0 MW
O potencial de redução de gastos somado à ecologia motivou o estado a firmar, em agosto deste ano, uma parceria com a Celesc para usar a energia limpa das fazendas no abastecimento de luz de mais de 1 mil escolas públicas.
A previsão é de que a iniciativa reduza 10% as despesas com energia da educação, representando economia de R$ 2,3 milhões em dois anos. As tratativas da implantação estão em andamento.
“As atuais fazendas de energia solar em Santa Catarina contribuem significativamente para a redução de emissões de CO₂, substituindo a geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis e, consequentemente, reduzindo a pegada de carbono”, resume o diretor da Celesc, Hoffelder.
📍 Como a UFSC foi pioneira na pesquisa de energia solar
A instalação do laboratório na UFSC foi um marco para a energia solar em Santa Catarina e no Brasil, afirma Rüther. Após trazer o sistema fotovoltaico diretamente da Alemanha, e o colocar no telhado de um dos prédios da universidade na Capital, o pesquisador conseguiu o primeiro parecer de acesso do Brasil, por meio de uma autorização assinada pela Celesc, e ligou os equipamentos à rede catarinense.
"Isso pavimentou o caminho para a gente fazer todas as pesquisas e chegar à discussão da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que regulamentou o sistema de compensação de energia. Esse foi um papel pioneiro da Celesc", cita o professor.
Entre outros avanços, a parceria entre a Celesc ajudou a UFSC a proporcionar, em 1998 e com o Greenpeace, o primeiro show da América Latina movido 100% a energia solar com a banda Jota Quest. Em 2015, a estrutura foi ampliada e o laboratório mudou para o sapiens park.
Imagem mostra autorização da Celesc, show de Jota Quest e laboratório da UFSC de energia solar
Ricardo Rüther/Arquivo pessoal E UFSC/Divulgação
Como funcionam as usinas de energia limpa
Professor da UFSC e pesquisar do tema há mais de duas décadas, Rüther explica que tanto as fazendas solares da Celesc, como o laboratório da universidade, funcionam como usinas de energia limpa a céu aberto. A luz incide sobre as placas, é convertida em eletricidade pelas células de silício das estruturas e resulta na eletricidade.
Em menor escala, o sistema é igual para os painéis instalados nos telhados das casas. Segundo o cálculo do pesquisador, até quatro placas, com durabilidade médica de 25 anos, abastem uma unidade consumidora (uc). O excedente é distribuído à rede elétrica e retorna como desconto para abater o consumo futuro, ou até mesmo outras residências (veja o infográfico).
“A legislação brasileira, inclusive única do mundo, permite a compensação de energia. Você pode gerar em um lugar e consumir em outro”, explica o professor Rüther, que ajudou a construir o modelo de crédito de energia junto ao Ministério de Minas e Energia ainda em 2012, após os estudos na UFSC.
Infográfico - Painéis solares em SC
Arte/g1
Investimento e arrecadação bilionária: o panorama da energia solar em SC
Santa Catarina conta com mais de 1,4 gigawatt de potência instalada em geração solar, segundo dados de julho da Absolar. As conexões operacionais de painéis solares, espalhadas por telhados e pequenos terrenos em 293 cidades — o equivalente a 99,3% do estado — atendem a mais de 202 mil consumidores.
Os dados colocam Santa Catarina entre os 10 estados brasileiros com maior oferta desse tipo de energia limpa e deixam espaço para ampliação, segundo Ricardo Rüther.
"Aqui foi onde tudo começou. Uma informação importante é que Florianópolis é a Capital menos ensolarada do Brasil. Isso serve como uma quebra de paradigma, porque se funciona bem no pior lugar, vai ser melhor ainda em outros locais".
Desde 2012, a modalidade já proporcionou a Santa Catarina, segundo a Absolar:
➡️ geração de mais de 44 mil empregos;
➡️ atração de R$ 7,8 bilhões em investimentos;
➡️ arrecadação de R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos.
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