Entenda como as mudanças climáticas influenciam estratégias econômicas e a disputa de poder entre os dois países que mais poluem o planeta

  • 06/11/2025
(Foto: Reprodução)
Como a crise do clima interfere na batalha de poder entre EUA e China O Jornal Nacional apresenta uma série de reportagens sobre o futuro do planeta. Nesta quinta-feira (6), Felipe Santana mostrou a batalha geopolítica entre os dois países que mais poluem: China e Estados Unidos. Você pode nunca ter ouvido falar na cidade de Zhezhong. Mas tem 13 milhões de habitantes – mais do que a maior capital brasileira. É polo industrial. Está para Xangai da mesma forma que Campinas está para São Paulo. Você teria coragem de passear por uma das maiores cidades do mundo desse jeito? Quando você chega para pegar o ônibus para ir para o trabalho e percebe que o motorista não está, você pensa: "Ih, esse aqui vai atrasar. Vou sentar e esperar". Só que esse ônibus é diferente. Ele não é único na cidade líder em produção de tecnologia para o transporte coletivo, com fábricas tão gigantes que lá dentro ninguém anda a pé. Só esperar um pouquinho. Apertem os cintos, o motorista sumiu. LEIA TAMBÉM Conheça os interesses e a história por trás do negacionismo climático Veja como decisões políticas dos EUA afetam a vida no planeta Os trabalhadores da maior montadora de ônibus elétricos do mundo produzem tanto pequenos quanto grandes que rodam na rua em caráter experimental. “Já há na China 300 desses ônibus funcionando, que já rodaram mais de 4 mil km, e o número de acidentes até agora é zero”, afirma Wang Zhen, gerente de condução autônoma. É através de sensores e radares que os ônibus conseguem identificar os obstáculos. Eles não precisam de gasolina. Para onde você olha na China, você enxerga o programa de desenvolvimento do país - eletrificar tudo: 70% de toda a produção de carros elétricos é chinesa; 80% dos trens são elétricos; 97% de todos os ônibus vendidos por lá e também sobre duas rodas. "Eu queria comprar uma moto a combustão. Os estrangeiros gostam da de combustão, e eu queria uma também, mais rápida. Só que eu vi que ia perder ela para polícia, a polícia ia pegar de mim – e eles pegam mesmo – e tchau tchau, não pega mais”, conta o professor Pablo Lasalle. O Pablo mora na cidade de Wuhan há dez anos. As motos a gasolina simplesmente são proibidas de rodar no Centro da cidade. Logo, ele se acostumou: "Você não gasta com bateria. A cada três dias se gasta R$1, R$1,50”, diz. Mudanças climáticas influenciam estratégias econômicas e a disputa de poder entre os dois países que mais poluem o planeta Jornal Nacional/ Reprodução Mas essa energia elétrica barata que abastece o crescimento chinês não tem nada de verde: 60% de toda a energia que carrega motos, carrega os carros e os ônibus é gerada por usinas que queimam carvão. Por isso, a China é o país que mais polui no mundo. A diferença é que eles têm um plano. A transição verde já representa 10% do Produto Interno Bruto chinês. Seis em cada dez turbinas eólicas produzidas no mundo são feitas na China. Na conta também entram as gigantescas fazendas de sol, as hidrelétricas. A diferença da China é que até muito pouco tempo eles eram um país pobre. Quase ninguém tinha carro, por exemplo. Só em 1997 que eles abriram a primeira montadora em larga escala - metade americana, metade chinesa. O Ronaldo Znidarsis era executivo dessa empresa. Na opinião dele, essa eletrificação chinesa não tem nada a ver com o meio ambiente. "A China tomou uma decisão consciente de que ela não tinha autonomia para ter uma frota a combustão. Então, ela não tem os recursos de petróleo suficientes para a frota que ela tem e decidiu investir na eletricidade”, diz Ronaldo Znidarsis, diretor de operações da Zeekr. Fernando Valle é analista do mercado de energia. "A China ainda é a maior importadora de petróleo, está crescendo como importadora de gás natural liquefeito e é uma grande consumidora de carvão. É menos a ver com a parte renovável e as emissões e muito mais a ver com continuar a crescer no parque industrial do país”, afirma Fernando Valle, diretor executivo de energia da Hedgeye Risk Management. 72% de todo o petróleo que a China consome é importado. É uma realidade muito diferente da americana. Em 27 de agosto de 1859 foi furado o primeiro poço de petróleo comercial do mundo no estado americano da Pensilvânia. Foi lá que nasceu o petróleo como conhecemos hoje. Substituiu os músculos e o carvão - principalmente porque era mais barato - para movimentar carros, aviões, fábricas. E, depois, plástico, fertilizante, remédio, eletrônicos. O ouro negro. As petroleiras americanas se tornaram multinacionais e começaram a abrir poços pelo mundo: México, Colômbia, Venezuela , Oriente Médio . O Departamento de Estado americano servia como um advogado dos Estados Unidos pelo mundo, pavimentando o caminho para que as concessões ocorressem sem problemas, assinando tratados, construindo bases militares e alianças estratégicas. Arábia Saudita: os americanos construíram toda a infraestrutura - oleodutos, terminais de exportação. E a Marinha americana garantia a segurança nas rotas. Em 1974, a jogada de mestre veio em um encontro secreto. Em troca de armas e proteção militar, os sauditas aceitaram comprar e vender usando apenas uma moeda: o dólar americano. Logo, todas as transações de petróleo do planeta eram obrigatoriamente feitas com a moeda americana. Foi o começo da era que dura até hoje: a era do petrodólar. Mudanças climáticas influenciam estratégias econômicas e a disputa de poder entre os dois países que mais poluem o planeta Jornal Nacional/ Reprodução Transações em dólares têm que obrigatoriamente passar pelos bancos americanos em Nova York. E qualquer país que quisesse comprar petróleo, tinha que ter uma poupança em dólar. Muitos países tiveram que pegar um empréstimo com condições favoráveis aos americanos. Não é brincadeira o poder que o petróleo teve para dar para os americanos o poder que eles têm hoje. "Todas as transações em petróleo são feitas em dólares. O petróleo é precificado em dólar. E tem essa correlação entre o preço do petróleo e o dólar. Os Estados Unidos têm esse controle monetário”, afirma Fernando Valle. Foi o nascimento do mundo em que vivemos. Mas o mundo que vivemos está mudando. As mudanças climáticas que nos assustam no dia a dia têm outras consequências na economia que a gente ainda não consegue nem calcular. Groenlândia: uma ilha gelada perto do Polo Norte. O inverno lá é tão bravo que o mar congela, e aí a Groenlândia toca o Canadá de um lado e Islândia de outro - ou pelo menos era assim até hoje. A Groenlândia aquece três vezes mais rápido do que o resto do planeta. Isso está mudando totalmente a importância de portos por lá. Porque, antigamente, todo o mar congelava. Agora, mesmo no inverno, os navios conseguem parar. Isso vai abrir rotas comerciais como nunca foram vistas na história, cruzando o mar do Ártico. "Em uma perspectiva de mercado, é uma mudança positiva porque a rota da Ásia até a Europa vai encurtar”, diz o cientista político Bjorn Lomborg. Bjorn Lomborg é analista político e estuda as mudanças climáticas na Groenlândia sob uma perspectiva econômica: "Há 20 anos, a gente não imaginava que isso fosse acontecer. Mas, hoje, vemos navios de cruzeiro chegando perto”. Groenlândia Jornal Nacional/ Reprodução Por muito tempo, os Estados Unidos ignoraram o mar do Ártico, porque ele não estava na rota do petróleo e estava sempre congelado. Mas, agora, a China vê essa passagem como uma alternativa para chegar de forma muito mais rápida à Europa. O gelo derretendo na Groenlândia facilita o acesso à mineração de minerais raros para fazer baterias, por exemplo, para carros elétricos. A disputa ali ficou tão acirrada que o presidente Donald Trump ameaçou, em 2025, anexar a Groenlândia ao território americano. Ou seja, a realidade climática é estratégia política e até ela depende do petróleo. "Mesmo quando a gente for para a mineração de terras raras ou outros componentes para baterias, o petróleo vai ser necessário”, afirma Fernando Valle. Na China, a tentativa de reduzir pelo menos o carvão tem dado seus primeiros resultados. "Quando eu vim para cá, tinha muita poluição. Eu lembro de um dia que eu saí na rua, eu parei, fiquei em choque porque estava amarelo escuro. Eu olhei assim e parecia o fim do mundo. É visível assim que a poluição baixou”, conta Pablo Lasalle. Mas por baixo do verniz da eletrificação, ainda é o país que mais polui o mundo. Quase a metade de todas as emissões de gases causadores do efeito estufa vem da China e dos Estados Unidos, que agora competem pela nova fronteira. E o que a gente vai tentar descobrir na reportagem desta sexta-feira (7).

FONTE: https://g1.globo.com/jornal-nacional/jn-na-cop30/noticia/2025/11/06/entenda-como-as-mudancas-climaticas-influenciam-estrategias-economicas-e-a-disputa-de-poder-entre-os-dois-paises-que-mais-poluem-o-planeta.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes