Liquidação do Banco Master: como ficam correntistas e investidores?
PF prende Daniel Vorcaro, dono do Banco Master
A decisão do Banco Central (BC) de colocar o Banco Master sob administração especial temporária e decretar sua liquidação extrajudicial gerou diversas dúvidas entre correntistas e investidores — sobretudo entre quem tem CDBs emitidos pela instituição.
🔎 O Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um investimento de renda fixa em que o investidor empresta recursos a um banco e recebe juros em troca. Essa remuneração pode ser pré-fixada (definida no momento da aplicação) ou pós-fixada (atrelada a um indicador, como o CDI).
A crise ganhou ainda mais relevância após a prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, na segunda-feira (17). A Polícia Federal deteve o empresário no aeroporto de Guarulhos, quando ele tentava deixar o país em um avião particular rumo a Malta.
A seguir, o g1 reúne as principais dúvidas de correntistas e investidores do Banco Master sobre o que muda daqui para frente.
Como funciona a liquidação de um banco?
A liquidação extrajudicial é um regime usado para encerrar as atividades de uma instituição financeira e retirá-la do Sistema Financeiro Nacional de forma organizada.
Ele é acionado pelo BC quando há insolvência sem possibilidade de recuperação ou infrações graves às normas do setor, entre outras situações previstas em lei.
"Isso significa que o banco deixa imediatamente de operar e passa a ser retirado do sistema financeiro de maneira controlada e organizada", explica André Santa Cruz, mestre em Direito pela Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Segundo Cruz, o efeito é imediato: o banco para de funcionar, todos os contratos em andamento passam a ser considerados vencidos e qualquer ação judicial contra a instituição fica suspensa durante o processo de liquidação.
A partir da liquidação, o processo fica sob responsabilidade de uma empresa indicada pelo BC. Esse profissional — o liquidante — fará um levantamento dos bens do banco e das dívidas existentes para, depois, organizar o pagamento dos credores na ordem prevista em lei.
Com isso, o liquidante passa a identificar os ativos do Banco Master, como imóveis, recursos em caixa e carteiras de crédito.
Paralelamente, ele deve mapear as dívidas, que incluem obrigações trabalhistas, tributos e débitos com outras instituições. Só após essa etapa começa a venda dos bens para pagamento dos credores.
🔎 Em processos de liquidação, trabalhadores e credores tributários — como Receita Federal e Secretarias de Fazenda — costumam ter prioridade na ordem de pagamentos.
O que é a proteção do FGC?
Para correntistas — quem mantém recursos em conta corrente, poupança ou possui pagamentos pendentes — os saldos são protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição.
No caso dos investidores, a cobertura depende do tipo de aplicação. Estão dentro das regras do FGC:
CDB e Recibo de Depósito Bancário (RDB);
Letra de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCAs).
Vale lembrar que o FGC só atua quando há intervenção ou liquidação de uma instituição financeira. A indenização considera o valor aplicado mais os rendimentos acumulados até a data da liquidação, limitado ao teto de R$ 250 mil.
Exemplo: quem tinha R$ 200 mil aplicados e R$ 70 mil em rendimentos receberá até R$ 250 mil.
O que ultrapassar esse valor deve ser solicitado dentro do processo de liquidação conduzido pelo BC.
Quem não é protegido pelo FGC?
Quem não tem direito à cobertura do FGC são os investidores que aplicaram em produtos sem garantia do fundo, como:
debêntures;
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs),;
Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs);
fundos de investimento;
títulos emitidos fora do sistema de proteção.
Nesses casos, não há indenização automática: todo o valor aplicado entra integralmente na fila da liquidação e só pode ser recuperado se houver recursos suficientes após o pagamento das obrigações prioritárias.
Segundo o advogado Eduardo Brasil, sócio do Fonseca Brasil Serrão Advogados, para os investidores que possuem aplicações não cobertas pelo FGC, o tratamento é diferente.
“Esses recursos passam a integrar a massa de credores da liquidação, e a recuperação dependerá da venda de ativos e da capacidade financeira do banco ao longo do processo. O resultado pode ser pagamento integral, parcial ou até inexistente, dependendo do patrimônio disponível.”
Quando o saldo ultrapassa R$ 250 mil
Quem tem valores acima do limite coberto pelo FGC precisa se habilitar como credor na liquidação. Para isso, é necessário acompanhar o site da empresa que será nomeada como liquidante, onde devem ser publicadas as orientações e a lista de documentos exigidos.
O Banco Central recomenda buscar apoio jurídico para compreender os prazos, reunir a documentação e garantir que todos os direitos sejam respeitados ao longo do processo.
Para saldos em conta corrente e poupança, a regra é a mesma aplicada aos investimentos cobertos: o FGC garante até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ por instituição.
O que excede esse limite não é coberto e entra na fila da liquidação — tanto para depósitos quanto para aplicações protegidas, como CDBs, RDBs e LCIs/LCAs.
Exemplo:
Um correntista com R$ 300 mil na poupança pode receber até R$ 250 mil pelo FGC.
Os R$ 50 mil restantes entram no processo de liquidação e só são pagos se houver recursos após o atendimento das prioridades legais, como dívidas trabalhistas e tributos.
Etapas até o ressarcimento
Embora exista a garantia, o pagamento do FGC não é imediato. O processo começa quando o liquidante envia ao fundo a lista completa de credores do banco — etapa que, em liquidações recentes, levou cerca de 30 dias.
Com a lista consolidada, o FGC libera o acesso aos valores cobertos.
"Todos os créditos enquadrados em nosso regulamento terão o processo de pagamento iniciado tão logo o levantamento dos dados dos credores seja concluído e disponibilizado ao FGC", diz o fundo em nota sobre a situação do Banco Master.
Para solicitar o ressarcimento:
Pessoas físicas: devem usar o aplicativo do FGC, após realizar um cadastro básico.
Pessoas jurídicas: fazem o pedido diretamente pelo site da instituição.
Depois da assinatura do termo de solicitação, o FGC informa que a liberação costuma ocorrer em até 48 horas úteis, desde que os dados estejam corretos.
Mesmo assim, o período entre a decretação da liquidação e o pagamento aos investidores variou entre 14 e 40 dias nas operações mais recentes.
Para eventuais dúvidas, o FGC orienta que correntinstas e investidores entrem em contato pelo e-mail: atendimento.credores@fgc.org.br
Quanto o FGC vai precisar aportar no caso do Banco Master?
O valor que o FGC precisará aportar no caso do Banco Master ainda não está definido. A estimativa só será possível depois que o liquidante — que ainda será nomeado pelo Banco Central — enviar a lista completa de credores da instituição.
Esse levantamento costuma levar alguns dias e, em alguns casos, pode se estender por semanas até que todas as informações sejam consolidadas.
Vale dizer que o dinheiro do FGC vem das próprias instituições financeiras. Todo mês as instituições, como os bancos, pagam para manter esse fundo.
Como ficam os pagamentos de quem tem dívida com o Banco Master?
Mesmo com a liquidação, quem tem empréstimos — incluindo crédito consignado — continua obrigado a pagar as parcelas normalmente. A liquidação não cancela contratos já assinados.
O responsável pela liquidação, que será nomeado pelo Banco Central, assume a administração desses contratos e deverá informar como serão feitos os pagamentos daqui para frente, incluindo emissão de boletos, canais de atendimento e eventuais mudanças nos procedimentos.
Enquanto as orientações oficiais não forem divulgadas, o consumidor deve:
manter os comprovantes de pagamentos anteriores;
evitar atrasos;
não pagar boletos enviados por terceiros até que haja comunicado oficial do liquidante.
As chaves PIX do Banco Master ainda vão funcionar?
Não. As chaves PIX registradas no Banco Master deixam de valer imediatamente, porque a instituição é retirada dos sistemas de pagamento ao entrar em liquidação.
Para continuar usando o PIX, o cliente precisa registrar uma nova chave em outro banco ou fintech de sua titularidade. Assim que o Master é desligado do sistema, a chave antiga fica liberada para ser cadastrada novamente em outra instituição.
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Crédito: DivulgaçãoFONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/11/18/liquidacao-do-banco-master-como-ficam-correntistas-e-investidores.ghtml