Tragédias na Região Serrana do RJ alertam para vulnerabilidade das cidades; iniciativas apontam rumos para a adaptação climática

  • 05/11/2025
(Foto: Reprodução)
Entre as discussões que estarão na mesa da COP-30 está a adaptação urbana Três anos depois da tragédia no Morro da Oficina, Petrópolis ainda convive com as marcas da lama — e com os alertas da crise climática. Às vésperas da COP30, que será realizada a partir da próxima segunda (10), em Belém (PA), as histórias dos sobreviventes da Região Serrana do Rio voltam a expor um dos maiores desafios do planeta: como preparar as cidades para eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. A enxurrada que desceu o morro em 15 de fevereiro de 2022 arrastou casas inteiras, deixou bairros soterrados e destruiu famílias — nove pessoas da casa de Cristiane Gross da Silva morreram naquela tarde. “Eu vi um cenário de guerra. Eu nunca na minha vida imaginei passar por isso. Você acompanhava pela televisão. Eu nunca pensei em viver na pele”, lembra, chorando. Foram 54 casas destruídas e 93 moradores mortos só no Morro da Oficina. Cristiane estava no trabalho quando soube o que aconteceu e fez tudo o que pode para chegar em casa. “Eu agarrava nos postes, não sei como cheguei aqui. Porque a fiação estava solta, a lama até o pescoço. Meus vizinhos passavam e falavam assim: ‘Cristiane, não vai não. Não tem mais nada lá’”. Nove pessoas da família de Cristiane morreram nas chuvas de Petrópolis em 2022, além de uma amiga (mulher segurando o copo) Arquivo pessoal Rosilene Fontes dos Anjos, de 43 anos, também teve a vida virada do avesso. O filho dela, Thiago, de 22, estava dentro de um dos ônibus arrastados pela correnteza. As buscas por Thiago duraram dias, e o corpo só foi encontrado quase uma semana depois. “Para você ver como as coisas são. Ele foi encontrado em frente ao prédio onde eu trabalho. “É uma dor inexplicável. Parece que um pedaço da gente foi arrancado, sabe? E esse pedaço fica fazendo falta todo o tempo”, lamenta. Ônibus que foi arrastado pela correnteza Reprodução/TV Globo Desastres cada vez mais frequentes A Região Serrana do Rio de Janeiro sempre sofreu com temporais. Mas, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), eventos como o de Petrópolis têm se tornado mais comuns com as mudanças climáticas. “Não é coincidência que nos últimos anos nós tivemos realmente um aumento da frequência. O que antes acontecia a cada cinco ou dez anos, agora ocorre anualmente”, explica o meteorologista Marcelo Seluchi. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça Desde 2022, cerca de 3 mil famílias ainda recebem o chamado aluguel social no município. Muitas não conseguem pagar um novo lar e acabaram voltando para áreas de risco. A prefeitura afirma ter feito mais de 200 obras de contenção, mas, no Morro da Oficina, as intervenções ainda não foram concluídas. "Quando a gente tem o crescimento habitacional, as pessoas são empurradas para o que hoje são chamados de locais de risco", destaca Pâmela Mércia, fundadora da ONG TJNS. Dor do passado deixa lições para o futuro Enquanto Petrópolis ainda tenta se reerguer, outras cidades do Rio mostram que é possível agir para evitar novas tragédias. Em Niterói, o Morro da Boa Vista virou símbolo de recuperação ambiental. Cem mil mudas foram plantadas na encosta — as raízes ajudam a conter o solo e reduzem o risco de deslizamentos. O local também abriga a primeira usina solar do Brasil dentro de uma favela, onde o reflorestamento e a energia limpa caminham lado a lado. “Evita a possibilidade de tragédias com deslizamento de terras. Ao mesmo tempo, desperta consciência ambiental sobre a necessidade de preservar para as atuais e a futuras gerações, as nossas áreas verdes”, explica o prefeito Rodrigo Neves. Ruas da Praça da Bandeira, zona norte do Rio, completamente debaixo d'água. Vinicius da Silva Ferreira/VC no G1 Na capital, um outro projeto virou referência internacional: o reservatório subterrâneo da Praça da Bandeira, conhecido como “piscinão”. A estrutura de 20 metros de profundidade, criada há 12 anos, é capaz de armazenar até 18 milhões de litros de água da chuva, evitando enchentes históricas na região. “Quando a gente tem chuva mais intensa, toda essa água excedente é recolhida aqui pra dentro do reservatório, onde ela é acumulada. Eliminamos aquele histórico. Aquelas imagens que eram constantes em todas as chuvas”, explica o secretário municipal de Infraestrutura, Wanderson dos Santos. A água só é liberada para os rios depois que a chuva para e o nível baixa. Depois do piscinão, não se fala mais em enchentes na Praça da Bandeira. Leitor mostra alagamento nas proximidades da Praça da Bandeira Marcelo E. Talhaferro de Oliveira/VC no G1 Lições para o futuro Essas experiências estarão no centro das discussões da COP30, que acontece no mês que vem, em Belém. A conferência deve debater como preparar as cidades brasileiras para enfrentar eventos climáticos extremos e reduzir desigualdades que aumentam a vulnerabilidade da população. “É importante tirar essas ações que estão hoje em planos, em políticas, tirar do papel e implementar em forma de ações. Sistemas de drenagem mais eficientes, parques, jardins de chuva, zonas de resfriamento com disponibilidade de água para hidratação da população. Porque nós vamos vivenciar ondas de calor e essas ondas de calor estão se tornando cada vez mais mortais”, afirma Andréa Santos, especialista da Coppe/UFRJ. Para Cristiane, que viu o pior acontecer no Morro da Oficina, o alerta é claro: “A mudança climática não está batendo, está gritando. A gente precisa trabalhar a cabeça das pessoas para a prevenção — pra que ninguém mais passe o que eu passei. Porque o luto é eterno.”

FONTE: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/11/05/cop30-rumos-para-a-adaptacao-climatica-nas-cidades.ghtml


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